Estudo

AS CIDADES DE REFÚGIO

INTRODUÇÃO

A terra de Canaã era mais que a terra prometida, geograficamente falando: era terra santa, santificada pela presença de Deus, que vive no meio do seu povo (Êx 19.5,6). Portanto, era da maior importância manter pura essa terra, especialmente da contaminação mais terrível: do derramamento de sangue. Assim o homicida não-intencional, fugia para uma das cidades de refúgio mais próxima, afim de que os anciãos daquela cidade, julgassem sua causa. Ali, com efeito, ele estaria protegido do “vingador do sangue”.

I- O VINGADOR DO SANGUE E A NECESSIDADE DE REFÚGIO

1.1 Definição - Esse termo “vingador do sangue”, é aplicado ao parente mais próximo de uma pessoa assassinada (2Sm 14.7,11; Js 20.3,5,9; Sl 8.2), que tinha o direito de vingar o homicídio. As culturas antigas, antes mesmo de Moisés, incorporavam essa prática(Gn9.5). Todos os membros de uma tribo eram considerados como de um só sangue, pelo que, se um crime de sangue afetasse a um dos membros, envolvia todos os outros membros. O parente mais próximo tinha a responsabilidade, e não apenas o direito, de vingar o crime. A lei mosaica permitia que o vingador matasse o assassino. Porém, ninguém mais da família do assassino (Dt 24.16; 2Rs 14.6 e 2Cr 25.4).

1.2 A necessidade de refúgio- As cidades de refúgio dos países antigos eram, essencialmente, medidas judiciais auxiliares, para ajudar no escape dos homicidas involuntários. Visto que o código de vingança era forte, os parentes de uma pessoa morta por outrem matavam sem misericórdia ao culpado pelo homicídio,sem temer qualquer ação da parte da lei. A lei da retribuição, em Israel, requeria punição igual ao crime(Gn9.6; Êx21.12-14; Lv24.17; Ez18.20).

Naqueles tempos, era considerado um dever o parente de um homem morto justiçar o assassino (Lei de Talião), mesmo que o homicídio tivesse sido feito involuntariamente, mesmo que com razão, em defesa própria. Devido ao direito que cabia ao vingador do sangue, surgiu então a necessidade da existência das cidades de refúgio.

II- AS CIDADES DE REFÚGIO

2.1 O propósito- Das 48 cidades dadas aos levitas, seis eram cidades de refúgio. Estas foram colocadas sob a supervisão dos levitas provavelmente porque eram os mais imparciais nos julgamentos (Dt 19.1-13 e Nm 35.9-34). As cidades de refúgio não serviam para proteger assassinos que matassem propositalmente as suas vítimas, com ódio no coração e premeditação. Mas serviam para proteger os homicidas involuntários, sem ódio no coração. Essas cidades estavam distribuídas de tal modo que era possível um escape relativamente fácil para o indivíduo que matasse a outrem por acidente.

2.2 O julgamento-”Exporá o seu caso perante os ouvidos dos anciãos da tal cidade”(Js2.4). Isso faria o indivíduo que chegasse a uma das seis cidades de refúgio. Na entrada da cidade, declararia por qual razão estava ali. Os anciãos da cidade, ato contínuo, cuidariam para que ele tivesse um lugar onde recebesse abrigo e proteção. Um vingador do sangue que violasse o recinto daquela cidade seria executado. Em seguida, o refugiado seria submetido a julgamento, com vistas a averiguar se ele era mesmo um homicida involuntário ou se era um assassino de propósito. O refugiado ficaria instalado na cidade por todo o tempo em que estivesse ali retido. Ele não era obrigado a comprar ou alugar uma moradia. Desse modo, a fuga era facilitada em seu aspecto financeiro. Os Anciãos da Cidade Formavam o Tribunal (Jó 29.7; Dt 21.19 e 22.15). Eles chegavam a uma decisão provisória sobre o caso. Se a história contada pelo refugiado Ihes parecesse autêntica, ele poderia ingressar na cidade. Mas depois disso haveria um julgamento mais completo, para investigar todos os fatores envolvidos.

2.3 A permanência nas cidades - O indivíduo ficava preso à cidade em que se refugiara, sem poder sair dali enquanto o sumo sacerdote vigente continuasse vivo. Isso podia envolver um período mais breve ou mais longo. Após a morte do sumo sacerdote, o homicida involuntário podia voltar para as terras de sua família e reiniciar a sua vida (Js 20.6).

2.4 Se houvesse culpa - Se o vingador do sangue se fizesse presente, então cabia-lhe o recurso de ir para a cidade de refúgio mais próxima, e, em sua indignação, requerer que o homicida voluntário ou involuntário, fosse entregue às suas mãos(Dt 19.6). A lei era contrária a tal coisa; mas, movido pelo ódio, o vingador do sangue faria isso de qualquer maneira. Então ele apresentaria sua acusação diante dos mesmos anciãos da cidade e pleitearia diante deles o seu caso. Contudo seria informado de que a lei das cidades de refúgio tinham precedência sobre as antigas leis do deserto a respeito do vingador do sangue. E o possível executor, o vingador do sangue, seria mandado embora. “Todavia, se no julgamento definitivo o acusado fosse condenado, então caberia ao vingador do sangue executar a sentença, à sua maneira particular” (Nm 35.22,23 e Dt 19.6).

2.5 Tipos de homicidas:

• Homicida Doloso - É a designação de uma pessoa que mata alguém com intenção, com dolo ou premeditadamente. Ela não receberia proteção nestas cidades, pois cometia um pecado intencional e, portanto, receberia o castigo devido (Hb. 10.26-29).

• Homicida Culposo - É a designação de uma pessoa que mata alguém sem intenção, sem premeditação. Ela receberia proteção nas cidades reservadas para ela até o julgamento ou até a morte do sumo sacerdote. Hoje, sabemos que, mesmo o crime sendo culposo, ainda há solução para o perdão em Cristo Jesus (1 Jo. 1.8-10).

III- LOCALIZAÇÃO DAS SEIS CIDADES DE REFÚGIO

As estradas que conduziam às seis cidades de refúgio de Israel precisavam ser mantidas em bom estado de conservação, com sinais indicadores claros. Estudos históricos e arqueológicos, apontam que as encruzilhadas destas estradas eram assinaladas com placas dizendo: “Refúgio! Refúgio!”. Além disso, havia atletas treinados em corridas para ajudar na fuga dos inocentes. A princípio Deus ordenou à Moisés apenas a escolha de “três cidades de refúgio” e não seis conforme ficou instituído depois (Dt 40.41; Js 20.6). Posteriormente com a dilatação da terra prometida, este número foi elevado para seis. “Três destas cidades (disse Deus) dareis daquém do Jordão, e três destas cidades dareis na terra de Canaã; cidades de refúgio serão” (Nm 35.14; Dt 19.2,7-9). Estas cidades passaram a funcionar como uma espécie de “salvo-conduto”, transformando a pena do culpado não intencional numa prisão domiciliar.

Alguns crimes, mesmo cometidos acidentalmente, eram reputados como ”homicidas” e qualificados como “erro” (v.4). Os tipos de crimes que dariam direito à segurança nas cidades de refúgio vêm descritos em Nm 35.15-23; Dt 19.4-6,etc.

A situação geográfica das cidades de refúgio

Cidades ocidentais Cidades orientais
“Quedes em GaliIéia, na montanha de Naftali” (Js 20.7a).

Ficava cerca de 25 km ao norte do mar da Galiléia.

“Bezer, no deserto, na campina da tribo de Rúben”(Js 20.8a).Nas terras altas orientais a leste de onde o rio Jordão deságua no mar Morto.
“Siquém na montanha de Efraim” (Js 20.7b). Localidade no fim do vale que tinha um formato de «V»,na linha leste- oeste, entre o monte Ebal e o monte Gerizim. “Ramote em Gileade da tribo de Gade” (Js 20.8b). Cerca de oitenta quilômetros mais para o norte, nas terras altas de Gileade.
“Quiriate-Arba, esta é Hebrom, na montanha de Judá” (Js 20.7c). A cidade de Hebrom (Quiriate-Arba), ficava em Judá, cerca de 32 km ao sul de Jerusalém. “Golã em Basã da tribo de Manassés” (Js 20.8c). Golã, Nas terras altas a leste do mar da Galiléia. A exata localização desta última é desconhecida.

Essas cidades estavam localizadas em lugares estratégicos, dando aos habitantes de cada tribo um lugar de refúgio, não muito distante.

IV- TIPOLOGIA DAS CIDADES DE REFÚGIO

4.1 Porque seis cidades? - Seis é o Número do homem. O mundo foi criado em 6 dias, e o homem foi feito no sexto dia (Gn 1.26-31).Por mais que o homem se esforce, nunca chega à perfeição do 7. Salomão, o rei de maior grandeza e sabedoria na terra, tinha um trono de6 degraus. A estrela de Davi, que vem na bandeira de Israel, como símbolo nacional, tem 6 pontas. O gigante Golias tinha 6 côvados de altura, e sua lança 600 siclos de ferro (1 Sm 17.4-7). A estátua de Nabucodonozor, 60 côvados de altura e 6 de largura (Dn 3.1). O Anticristo, cujo número é 666 (Ap 13.18). Há na Bíblia 6 palavras que significam homem. São 4 no hebraico e 2 no grego: 1) Adam ou Adão (Gn 1.26; 2.7; 3.24, etc.), que significa homem. 2 ) Ish (Zc 6.12), significa varão completo, homem, forte. 3) Enox (SI 8.4; 73.5), quer dizer mortal, homem fraco. 4) Gehver (Êx 10.11; Zc 13.7) é homem de valor ou de prestígio. 5) Ântropos, no grego, é igual a Adam, do hebraico. 6) Âner, no grego, é igual a Ish, do hebraico.

4.2 As cidades e Cristo - Também podemos dizer que as cidades de refúgio representam o refúgio que temos em Cristo, o qual é nosso sumo sacerdote. A sua morte livrou-nos do temor ouretaliação do pecado, até onde está envolvido o destino da alma. Em Cristo o pecador perdoado fica inteiramente livre de culpa e das conseqüências eternas de seu pecado. Com base nestas verdades podemos dizer que:

•Quedes - Significa “Santuário”, lugar sagrado. Para podermos estar seguros e refugiados, abriguemos-nos no lugar onde Deus habita ou está presente: no lugar sagrado (Sl.15.1).

•Siquém - Significa “ombro” e ombro fala de responsabilidade e amparo. É uma tipologia do Senhor Jesus tendo o principado sobre os seus ombros (Is9:6); e também do Espírito Santo como nosso paracleto ou consolador (Jo.16.7).

•Quiriate-Arba ou Hebrom - Significa “união”, “companhia”, “camaradagem”. Temos nesta cidade de refúgio um tipo do Senhor Jesus como o nosso melhor amigo e companheiro (Jo 15:13-15).

•Bezer - Significa “fortaleza”, simbolizando Deus como a fortaleza de todos os que nEle confiam (Sl.46.1).

•Ramote -Significa”altura”,”exaltado”,refere-se a uma expressão enfática que indica a natureza elevadíssima e grandiosa da exaltação do Ungido (Fl 2.9-10).

•Golã - Significa “exílio” - O Senhor Jesus foi rejeitado por todos como um verdadeiro exilado para tornar-se o nosso gozo e refúgio (Is 53.1-5).

CONCLUSÃO

As cidades de refúgio instituídas por expressa ordem de Deus, representavam para o homicida não-intencional e fugitivo, a garantia de vida sem ser molestado. Tornando-se assim uma figura expressiva de Cristo, nosso salvador, pois, só na bendita pessoa de Jesus, encontramos: refúgio, paz e descanso para as nossas almas.

BIBLIOGRAFIA: Antigo Testamento Interpretado Versículo Por Versículo - Ed. Hagnos, Bíblia de Estudo Pentecostal - Ed. CPAD,

Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal - Ed. CPAD, Conheça Melhor O Antigo Testamento - Ed. Vida, Manual Bíblico - Ed. Vida Nova